Baú Armênio

Baú Armênio: A poesia de Baruyr Sevag

Parev pareganner,

Paruyr Sevak

Paruyr Sevak

Hoje o Baú Armênio abre espaço para um dos muitos poetas que versaram sobre a história e a realidade da Armênia e seu povo. Baruyr Sevag (1924-1971). Ele é tido por muitos como o grande poeta da Armênia do século XX e elegeu como tema principal de sua obra a crítica contundente à corrupção e os problemas burocrático-administrativos que pairavam sobre a República Socialista Soviética da Armênia.

Graças a tradução do amigo Kevork Zadikian, o portal Estação Armênia disponibiliza para vocês o poema “Mard ka”

Há pessoas, e há pessoas

Há pessoas que carregam o mundo nos ombros, e há pessoas que montam nos ombros do mundo.

Você que errou, mas nunca mentiu. Teve perdas freqüentes, mas soube recomeçar. Você que derrapou, e teve quedas. Caiu, sim, mas não foi derrotado, e, tampouco, ajoelhou-se. Soube recomeçar com coragem, abriu as asas para alcançar as alturas. Alcançou as alturas para conhecer o mundo; para viver. Viver pronto para lamentar as perdas, e sorrir com as conquistas. Pronto para selar a face da injustiça. Passaram-se anos, e você, firme, continua caminhando com passos seguros e largos, com a mesma determinação de sempre de ser correto e justo.
Dá-se a impressão que carregas o mundo nos ombros.

Há pessoas que carregam o mundo nos ombros, e há pessoas que montam nos ombros do mundo.

Aqueles que montam nos ombros do mundo, estes, nunca dormem no molhado. Sabem muito bem com quem andam, e para onde vão. Sabem bem chorar, sem lágrimas, no velório do desconhecido. Sabem rir da piada sem graça daqueles nos quais têm interesse. Sabem entregar o jogo de gamão para a pessoa certa. Sabem olhar, por cima, aos mais humildes. Sabem fazer gracinhas com as secretárias e falsos elogios às mulheres. Onde há ganhos materiais ou interesse, ali está ele, desconfiado e amedrontado. Facilmente condena quando necessário. E, com a mesma facilidade, lamenta sua própria falha. 

Acima de tudo, acima de todos, ele ama a seu mundo. Mais que tudo, mais que todos, ele ama seus interesses. Acima de tudo, mais que todos, ele ama o poder. Acima de tudo, mais que todos, ele gosta da própria barriga. Acima de tudo, mais que todos, ele ama o seu século na história mundial. É mentira: ama o poder e a corrupção do seu século.


Mas ele ama o pai, cheio de princípios, a mãe, os filhos e os netos. Ele ama valores familiares. Ele ama sua história, e seus costumes. 

É mentira. Para alcançar o poder, o trono e, finalmente, a cadeira, ele renega a tudo e a todos. 

Acima de tudo, mais que todos, ele ama seu trono. Ele ama o trono e seu reinado. Não importa o valor a ser pago pela cadeira. Ele ama a cadeira. Não importa o preço para subir, voar. Voar, mesmo sem ter asas. E vai adiante, ano após ano, mesmo que se rastejando, sem abrir mão da cadeira. E, continua assim, montado nos ombros do mundo.

Há pessoas que carregam o mundo nos ombros, e há pessoas que montam nos ombros do mundo.

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